- Esse momento existe somente nas nossas memórias.
Ele disse para ela, que com os olhos disfarçando o choro ia saindo
lentamente, quase que esperando um milagre puxa-la de volta. Desceu os
seis lances de escada, não queria usar o elevador. Pra que acelerar
aquela partida? Abriu a porta e deu de cara com a rua. Caminhou por ela
como quem carrega um peso nas costas, quando na verdade o peso estava
todo em seu coração. Olhou para o céu que ia ganhando suas primeiras
estrelas, quando ecoou em sua mente: "Apenas em nossas memórias"
-Pra tudo me falta memória, mas essas não guardo na mente, então se fazem eternas e guardadas no coração.
Ela disse para si mesma, em um tom bem baixo e uma lágrima no rosto.
Lembrou-se então que esqueceu, como sempre, as chaves. Voltou correndo.
Para voltar tinha pressa, toda pressa que lhe faltava quando se tratava
de partir, deu as costas para a rua e subiu de elevador, a respiração
ofegante, e a porta se abriu, olhou mais uma vez naqueles olhos que já
liam os seus.
- Esqueceu as chaves!
Ele disse dando um sorriso torto de quem estava feliz pelo esquecimento.
- Talvez eu não tenha vindo buscar algo que esqueci, mas algo que nunca vou esquecer.
Ela o beijou demoradamente, sentiu seu cheiro e fechou a porta. Ela
ainda esqueceria a chave muitas vezes, a carteira com todos os seus documentos e até de calçar os sapatos, mas aquele momento era parte dela, ele existia não somente em suas memórias, estava em seu coração.
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